sábado, 29 de dezembro de 2007

Cogito

Cogito, ergo-me, sou
o que deixo escrito.
Deixo marcas, deixo lágrimas,
deixo adeuses, deixo poemas,
deixo mitos.

Deixo rastros e vôo,
deixo versos e sou
meu alfabeto mudo
de gritos.

João Andrade

2 comentários:

Margot disse...

Por conhecer teus textos, meu dou o direito (nem sei se tenho tanto) de lê-los na ordem que eu quiser.
De repente, deu-me uma vontade de ler o primeiro e o último verso.
Sabe o que vi?
Primeiro vi Descartes... vi a razão;
Depois vi (ouvi) os gritos... primitivo.

Será que é isso mesmo...
o poeta passaia entre a razão e a emoção?
Abraços.

Margot disse...

Este poeta tem uma linha desconcertante.... ele passeia....passeia ...faz vc acreditar naquilo que ele está dizendo.... e no final do texto aquela rasteira no leitor: confiram: "cogito" (penso/reflito...), "deixo escrito" (reforça a criação, o registo); "Deixo marcas", "deixo lágrimas" (mais uma vez, o registo, a grafia, o texto); "deixo adeuses...poema...mitos" (mais elementos que reforçam o legado, a obra do poeta); "deixo rastros...voos...versos e o seu próprio eu" (mais do que isso - a própria obra-biografia-ser-estar-do-poeta) .......................................................................................................................................................................... para no gran finale: "meu alfabeto mudo de gritos"...................... Como ele pode desconcertar assim, nós pobres leitores mortais????!!! Cada leitura...uma nova leitura...uma nova visão... é esse o papel da literatura, a renovação?